quinta-feira, 25 de julho de 2013

Em carta emocionante, paciente fala de sua fé, de amor e da luta contra o câncer! Um exemplo!

São Paulo, 03-05-2013

Olá, eu sou Raily Arraveny de Almeida da Silva. Tenho 20 anos e gostaria de contar a minha historia de amor e minha luta contra o câncer. Sou da cidade de Lobato, Paraná, onde moro com minha família e onde trabalhava como vendedora  em uma loja de eletrodoméstico e fazia faculdade de estética e cosmético e já era apaixonada por Pedro Henrique, que residia na mesma cidade.

Em março de 2012, quando completamos dois anos de namoro, descobrimos que eu estava doente. Minha família sofreu muito ao saber o diagnóstico de linfoma. Foi como se a gente tivesse sido atropetrolado pela vida!  De momento eu pensei: meu deus, o que aconteceu? Foi aí que tomei uma decisão.

Falei pra minha mãe: não vamos chorar. Vamos ser fortes. Quero gravar uma música que fala em que realmente acredito. Com ajuda de amigos músicos gravamos “Anjo guardião”. Tudo aconteceu no mesmo dia. Eu e o Pedro sabíamos que seria difícil e que a jornada não seria fácil, mas será que nós estaríamos preparados?

Alguns dias depois chega o Pedro em minha casa, acompanhado por sua mãe, avó, meu pai, meu irmão, cunhada e alguns amigos da família. Olhando em meus olhos, me disse: Raily, pra mim já é na saúde, na doença, na alegria e na tristeza e estou pronto para enfrentar essa batalha. Me deu uma aliança e me pediu em casamento. Pensa, que emoção...

Em 28-05-2012 demos início ao tratamento de quimioterapia vermelha, ao mesmo tempo estava me preparando para o casório. E o grande dia chegou. Dia 03-11-2012, um pouco sofrida pelas quimios, mas muito feliz. Afinal, estava casando com o grande amor da minha vida. Com a benção de deus e a ajuda dois pais e dos amigos foi tudo de bom. O casamento foi no sábado e na segunda-feira já estava eu para minha realidade!

Mas depende de você o jeito que quer enfrentar essa tempestade. Deus tem que estar presente vinte quatro horas na sua vida, principalmente quando acha que não tem mais jeito para você.

Fiz uma apresentação de abertura do rodeio de Lobato. O Pedro entrou na frente com a bandeira  de nossa senhora e logo atrás eu entrei cantando “Romaria”. Tinha acabado um ciclo de quimio, mas é possível louvar a Deus. Na dor, a fé te acalenta.

Quando eu estava na 9ª sessão de quimio, senti que as coisas não estavam indo bem. No dia 13-03-2013, decidimos vir pra são Paulo para ter uma segunda opinião. Foi ai que as coisas se complicaram. O médico disse o seguinte: Você não pode voltar para o Paraná. Já perderam tempo demais. Seu tratamento está inadequado, feito de forma totalmente errada e já perderam tempo demais e hoje tem bem menos chances de cura.

Meu Deus, viemos para uma consulta e ter que ficar aqui, fora do meu mundo, tudo estranho para mim. Mas como Deus não abandona os seus filhos, com ajuda de  amigos viemos para a AMEO (Associação da Medula Óssea, organização não-governamental), que nos acolheu e onde permaneço hospedada com minha mãe, que é uma guerreira e que também lutou conta o câncer e hoje, ainda em tratamento, segue com sua missão.
Estou em tratamento na Santa Casa a onde sou muito bem tratada com todos os parâmetros que preciso. Fiz quimioterapia de resgate, estou em procedimento para o auto-transplante de medula (autólogo) e posso dizer que não é fácil. São reações do tratamento, a saudade do marido que sempre que pode vem me ver, a saudade da família. E assim vou seguindo em frente, sempre em um só pensamento. Deus se alegra com quem é forte e determinado. Um abraço a todos. Beijos. Raily Arraveny de Almeida da Silva.


Raily, você é um exemplo para todos nós! Continue com a sua fé!
Um grande beijo!


Matéria retirada do site da Ameo.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

ESCLARECIMENTOS SOBRE TRATAMENTO NO SUS, PELO PLANO DE SAÚDE E NO INCA (Rio de Janeiro)

Tratamento no SUS

1) Quem tem direito ao tratamento pelo SUS?
A atenção à saúde no Brasil é de acesso universal, isto é, todo cidadão tem direito a atendimento gratuito. O Ministério da Saúde garante o atendimento integral a qualquer doente com câncer, por meio do Sistema Único de Saúde, o SUS. Atendimento integral significa proporcionar ao doente todos os cuidados de que necessita para a cura ou o controle da doença incluindo as medidas de suporte para os tratamentos, cuidados paliativos e reabilitação para a reintegração social daqueles que ficam com sequelas da doença ou do tratamento.

Planos de Saúde

1) Quais as normas para quem tem plano de saúde?
O tratamento oferecido pelos planos de saúde obedece a legislação própria, da chamada Saúde Suplementar, que é de caráter geral, sem conteúdo específico para os  tratamentos de câncer. Os planos constituídos após a vigência da Lei nº 9.656/98 têm os procedimentos para tratamento de câncer relacionados em um Rol de Procedimentos publicado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS. Para os planos constituídos antes de 2 de janeiro de 1999 e ainda vigentes, a cobertura a ser garantida é a que consta das cláusulas contratuais acordadas entre as partes. Respostas às dúvidas em relação à cobertura de tratamento por planos de saúde, podem ser obtidas consultando-se a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS ou pelo Disque ANS: 0800 701 

Atendimento no INCA (Rio de Janeiro)

1) Como posso ser atendido no INCA?
Para ser paciente no Instituto é preciso ser encaminhado ao INCA por um médico e ter o diagnóstico de câncer confirmado, ou forte suspeita, por exame citológico ou histopatológico (que permite determinar a natureza de uma lesão) ou por meio de exame de imagem com indicação de tratamento oncológico.

2) Onde é o primeiro atendimento?
Esses documentos devem ser entregues no setor de Triagem do Hospital do Câncer I (HC I), Hospital do Câncer II (HC II) e Hospital do Câncer III (HC III). É nestes locais que é feito o atendimento de primeira vez, de acordo com o diagnóstico do encaminhamento. Por exemplo: tumores de mama são atendidos no HC III; ginecológicos, no HC II, e assim por diante, de acordo com a natureza de cada unidade. Na Triagem, é feito o cadastro do doente – o que não deve ser confundido com a matrícula definitiva no Instituto, feita somente com a abertura do prontuário médico. O Setor de Triagem do Hospital do Câncer I se localiza bem próximo a ele, na Rua do Rezende nº 124, no Centro do Rio de Janeiro. No Hospital do Câncer II e Hospital do Câncer III, o Setor de Triagem encontra-se nos próprios prédios.

3) Quem faz o primeiro atendimento?
O primeiro atendimento no INCA é feito por médicos especialistas, que avaliam cada caso. Após esta análise, e havendo possibilidade de tratamento oncológico específico (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia), é feita a matrícula do paciente no Instituto, com a abertura do prontuário médico. Quando não há indicação para tratamento no INCA, os casos são reencaminhados, com orientação, às unidades de origem.

4) Como faço para realizar exames no INCA?
O INCA só faz exames em pacientes que já estejam em tratamento no Instituto.

5) Como saber qual unidade do INCA devo procurar para ser examinado na Triagem?
O HC I atende adultos e crianças com diversos tipos de câncer, enquanto o HC II trata somente mulheres com câncer ginecológico e pacientes com câncer do tecido ósseo e conectivo, e o HC III cuida exclusivamente de doentes com câncer de mama. Já o HC IV admite apenas pacientes encaminhados pelas unidades do próprio Instituto para cuidados paliativos. O Centro de Transplante de Medula Óssea (CEMO) recebe doentes do INCA ou encaminhados por especialistas de outras instituições. Confira abaixo as especificidades e endereços das unidades do INCA:

Hospital do Câncer I – HC I
Atende adultos e crianças com diversos tipos de câncer. As primeiras consultas são realizadas na Triagem, localizada na Rua do Rezende, 124 - Centro. O horário de funcionamento é de 7h às 11h30, de segunda a sexta-feira. Tel.: (21) 3207-4569

Hospital do Câncer II - HC II (antigo Hospital de Oncologia)
Trata pacientes com câncer genital feminino e pacientes com câncer do tecido ósseo e conectivo. A Triagem funciona de segunda a quinta-feira, das 7h às 11h.
Rua Equador 831 - Santo Cristo
CEP 20570-120 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 3207-2800 • Fax: (21) 3207-2899

Hospital do Câncer III – HC III (antigo Hospital Luiza Gomes de Lemos)
Trata exclusivamente de doentes de câncer de mama. O primeiro atendimento é realizado na recepção integrada diariamente, exceto às quartas-feiras. São elegíveis para a triagem as pacientes com encaminhamento específico para a Unidade (Autorização de Procedimento Ambulatorial - Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde-SISREG III). Como ser atendido.
Rua Visconde de Santa Isabel 274 - Vila Isabel
CEP 20560-120 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 3207-3700 • Fax: (21) 3207-3955

Centro de Transplante de Medula Óssea – (Cemo)
Centro de transplante de medula óssea que atende doentes do próprio INCA ou encaminhados por especialistas de outras instituições. O primeiro atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h.
Praça Cruz Vermelha 23 / 7° andar - Centro
CEP 20230-130 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 3207-1214

6) Recebi meu diagnóstico de câncer num outro hospital público. Posso ser atendido no INCA?
Hospitais federais e hospitais universitários localizados no Rio de Janeiro, integrantes do Sistema Único de Saúde, assim como o INCA, estão capacitadas a tratar pacientes com câncer, oferecendo tratamento integral. Pacientes provenientes de hospitais federais, hospitais universitários ou de localidades que disponham de Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) ou de Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) deverão ser atendidas no INCA somente em situações excepcionais.

7) Não moro no Estado do Rio. Posso ser atendido no INCA?
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza atendimento gratuito em hospitais conveniados por todo o país. Para saber a unidade mais próxima de sua residência, acesse: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/cancer/site/tratamento/ondetratarsus/

segunda-feira, 18 de março de 2013

ENTREVISTA ** IMPORTÂNCIA DA DOAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA


Eu torço tanto, mas tanto, para que eu seja uma doadora compatível com alguém. E que dê certo!
Apesar do otimismo da entrevistada, pesquisas apontam que muitas pessoas que se cadastram como doadoras, desistem na fase final. Por medo, ou sei lá por que.
É importante, no momento de se cadastrar, que seja consciente e bem analisado. Que todas as dúvidas sejam sanadas.
Deve ser muito triste o doente encontrar um doador compatível, o que é tão difícil, e o processo não se finalizar.
Abaixo uma entrevista feita pelo dr. Drauzio Varela, com uma paciente, Juliana Serro,  que aguarda doador. Vamos sentir todas as sensações e angústias da entrevistada.
E também com a dra. Carmen Vergueiro que é hematologista na Santa Casa de São Paulo.


Muita gente confunde transplante de medula óssea com transplante da medula espinhal. Infelizmente, não se domina ainda a tecnologia necessária para transplantar um fragmento que seja da medula espinhal, isto é, da porção do sistema nervoso central que passa por dentro do canal localizado na coluna vertebral.
Quando se fala de transplante de medula óssea, estamos nos referindo a um procedimento clínico que possibilita retirar parte da medula alojada na cavidade interna de vários ossos, aquela parte que no esqueleto dos bovinos, por exemplo, chamamos de tutano.
A medula óssea é formada por tecido gorduroso no qual são fabricados os elementos figurados do sangue: hemácias ou glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.
No entanto, ela pode entrar em falência e não ser mais capaz de produzir as células do sangue ou pode ser destruída completamente durante o tratamento de determinados tipos de câncer que exigem altas doses de medicamentos quimioterápicos e/ou de radioterapia. Em situações como essas, o transplante alógeno de medula óssea pode ser a única maneira de salvar muitas vidas. O procedimento é bastante simples. Colhe-se uma pequena quantidade de células progenitoras da medula óssea do doador e injeta-se no sangue periférico, na veia do receptor. Através da circulação, essas células atingirão o interior dos ossos, lugar onde mais gostam de viver, começarão a multiplicar-se e retomarão a atividade de produzir os componentes do sangue. Em pouco tempo, o doador terá recomposto completamente sua medula óssea e, se quiser, estará apto para uma nova doação.
Embora simples e possível de ser feito, esse procedimento esbarra num grande problema. Como se sabe, o organismo tem a capacidade de rejeitar tecidos que lhe são estranhos. No caso específico do transplante de medula óssea, essa rejeição tem características muito especiais que dificultam encontrar um doador compatível.

Vamos ser um doador?
Um grande abraço!!



Drauzio – Dra. Juliana Serro é advogada, depende de um transplante de medula óssea e não tem doador compatível na família. Vamos pedir-lhe que fale um pouco sobre sua experiência à espera de um doador compatível.
Juliana Serro – Descobri que tenho leucemia há mais ou menos um ano e meio. Tenho duas irmãs, mas nenhuma das duas é compatível comigo. Por isso me cadastrei no REDOME, esperando localizar um doador. Como Dra. Carmen disse, minha chance é muito pequena. Tomo medicamentos que conseguem controlar a doença, mas não curam.  Para quem tem leucemia ou outras doenças do sangue, a cura depende do transplante de medula óssea.
Ao perceber a falta de informação a respeito do assunto, entrei em contato com o Hemocentro da Santa Casa de São Paulo, o único lugar da cidade que, no momento, cadastra doadores de medula e, unindo pacientes e voluntários, formamos uma associação que se chama AMEO (Associação de Medula Óssea), cujo objetivo é aumentar o número de doadores voluntários inscritos.
Esse trabalho deixou evidente que o problema é a falta de informação. As pessoas são muito solidárias. Quando ficam sabendo que doar medula óssea é um procedimento bastante simples, a grande maioria vai se cadastrar.

À ESPERA DO TRANSPLANTE
Drauzio – No seu caso particular, como é o tratamento que está fazendo depois que a doença foi diagnosticada?
Juliana Serro – Graças a Deus, sou portadora de leucemia crônica, uma doença que, por enquanto, estou conseguindo controlar com medicamentos.
Drauzio – Você consegue conviver bem com a medicação?
Juliana Serro – O medicamento tem alguns efeitos colaterais. Tenho muito sono, um pouco de inchaço e de retenção de líquido, mas são efeitos adversos com os quais consigo conviver e me deixam levar vida normal. No entanto, isso não acontece com a maioria das leucemias. Nesse aspecto, a leucemia crônica é quase uma exceção. Muitas pessoas têm leucemia aguda e não dispõem de muito tempo de vida para encontrar um doador. Por isso me envolvi nesse trabalho que tem surtido efeito, aumentando a esperança de quem precisa de um transplante de medula óssea.

Drauzio – ­Como você disse há dois tipos de leucemia. A leucemia aguda, uma doença mais agressiva e de evolução muito rápida, e a leucemia crônica que, embora não seja curada com medicação, responde ao tratamento durante muito tempo. Nesses casos, o transplante de medula óssea representa um tratamento de choque capaz de curar definitivamente a doença.  Como você se sente sabendo que, de certa forma, depende da boa vontade das pessoas em doar uma amostra de sangue para encontrar a medula óssea capaz de salvar sua vida?
Juliana Serro – É bastante complicado. Normalmente, encaro o problema com bastante esperança e continuo fazendo meu trabalho nessa campanha, tentando aumentar cada vez mais o número de doadores. Entretanto é óbvio que há ocasiões em que me desespero porque acho que estamos longe de conseguir um banco, um REDOME, com muitos doadores o que aumentaria nossa chance de cura. Na maior parte do tempo, porém, acho que as pessoas são muito solidárias e que, se a informação chegar até elas, estarão dispostas a colaborar com nossa causa.

Drauzio – Na AMEO, há pessoas que estão numa situação parecida com a sua. Você já acompanhou casos de pessoas que faleceram antes de conseguir uma medula compatível para transplante?
Juliana Serro – Já tivemos duas pessoas que faleceram enquanto procuravam doador. Eram pessoas próximas que participavam da campanha e tinham leucemia aguda. Como não podiam esperar mais, submeteram-se a um transplante autólogo, ou seja, da própria medula. Infelizmente, o tratamento não teve sucesso e elas faleceram.

TIPOS DE TRANSPLANTE
Drauzio – Explique um pouco o que é um transplante autólogo.
Carmen Vergueiro – No transplante autólogo, usa-se a medula do próprio paciente. Parte dela é retirada para ser recolocada depois, porque o que restar dela no organismo do paciente será completamente destruído. A ideia é de que se pode preservar a medula, enquanto ele recebe altas doses de quimioterapia, na verdade um tratamento de choque para erradicar a leucemia.Depois, as células-mães retiradas são devolvidas para recompor a medula óssea.
Como a leucemia é uma enfermidade que está dentro da medula é muito difícil conseguir que essas células estejam absolutamente limpas, livres da doença. Pode acontecer, então, que elas se proliferem e a doença volte.

Drauzio – Quer dizer que a medula óssea é retirada e conservada adequadamente. A seguir, o paciente recebe altas doses de quimioterapia que destroem não só o câncer, mas atacam outros tecidos também, entre eles a medula óssea que permaneceu no corpo do doente. Depois, o material colhido antes de iniciar o tratamento é devolvido ao paciente, todavia ele pode estar levando consigo células leucêmicas?  
Carmen Vergueiro – Parte-se da ideia de que é possível conseguir uma medula tratada, com poucas células malignas, mas a experiência mostra que os transplantes autólogos estão relacionados com alto índice de recidivas, porque não conta com o efeito imunológico dos transplantes alogênicos. Quando se coleta a medula de um doador estranho, de certa forma ela protege o receptor contra a volta da leucemia, pois assim como reconhece o organismo do paciente como estranho, reconhece como estranhos o tumor ou a leucemia.
Drauzio – Isso quer dizer que as células competentes imunologicamente do doador não só vão rejeitar os tecidos do receptor, como vão rejeitar as células leucêmicas.
Carmen Vergueiro – Está aí um dos grandes benefícios dos transplantes alogênicos, isto é, que utiliza a medula de outra pessoa.
Drauzio – Nos transplantes de medula óssea, o doente é tratado com doses maciças de quimioterápicos e radioterapia que destroem completamente sua medula. Passada essa fase de bombardeio, devolve-se a medula que foi retirada previamente (transplante autólogo) ou transplanta-se a medula de um doador (transplante alogênico). O que acontece com o paciente nesse período?
Carmen Vergueiro – Nessa fase se faz a mieloablação, ou seja, um tratamento que inclui altas doses de quimioterapia, o paciente para de produzir glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas e fica totalmente sem defesa. Esse é o grande perigo. Quando ele recebe de volta a própria medula ou a que foi doada por outra pessoa, por meio de uma simples transfusão de sangue, as células da medula vão migrar até os ossos onde funcionarão como um enxerto e levará tempo (mais ou menos duas semanas) para que sejam produzidas as novas células do sangue. Nesse intervalo, até que o paciente recupere a produção de glóbulos brancos, plaquetas e hemácias, seu estado é grave e ele precisa de grande suporte médico-hospitalar, porque não tem sistema de defesa e o risco que corre é alto.




REAÇÂO DOS DOADORES
Drauzio – Juliana, quando vocês tentam convencer as pessoas a se cadastrarem como doadoras de medula óssea, quais são as dúvidas mais frequentes?
Juliana Serro – As pessoas costumam confundir medula óssea com medula espinhal e temem ficar paraplégicas caso façam uma doação da medula óssea. Outra dúvida é se a medula óssea pode ser doada mais de uma vez. Explicamos que, como a medula se recompõe após a doação, a pessoa pode doá-la tantas vezes quantas sejam necessárias, o que não é comum tendo em vista a dificuldade de servir como doadora.
No entanto, se doar pelo REDOME e, mais tarde, descobrir que um parente seu precisa de sua medula, ela pode doar novamente sem nenhum problema.
Drauzio – Na verdade, essa medula que foi doada não faz falta nenhuma para o doador.
Juliana Serro – Não há prejuízo nenhum para o doador, já que a medula se recompõe em poucos dias.



Drauzio – O que deve fazer uma pessoa que deseja doar a medula óssea?
Juliana Serro – Em São Paulo, a pessoa deve dirigir-se ao Hemocentro da Santa Casa de Misericórdia e dizer que deseja doar a medula. Uma enfermeira ou um médico vão explicar-lhe como funciona e qual é o procedimento da doação de medula óssea e elucidar possíveis dúvidas.
Depois disso, se a pessoa quiser realmente ser doadora, irá preencher um cadastro e coletar uma pequena amostra de sangue para um exame de tipagem do sangue, ou seja, um exame de compatibilidade, cujo resultado será encaminhado ao REDOME.
Drauzio – A pessoa perde muito tempo para fazer isso?
Juliana Serro – Não perde. Em 15, 20 minutos no máximo a pessoa consegue cadastrar-se como doadora. É rápido e o horário de atendimento bastante amplo. Vai das sete horas da manhã às seis da tarde durante a semana e, aos sábados, das sete às quinze horas. É muito pouco tempo diante do benefício que ela estará prestando a quem depende do transplante de medula óssea para viver.
Drauzio – Já aconteceu de alguém se ter cadastrado e desistido na hora em que foi convocado para doar a medula?
Juliana Serro – Às vezes, acontece. As pessoas se cadastram por impulso sem estar bem informadas e conscientes do que estão fazendo. Algumas, quando são reconvocadas dizem – “Ah, pensei melhor… acho que vou desmaiar ou minha mãe não me deixa…”.
Por isso nosso esforço é para que as pessoas se inscrevam sabendo o que estão fazendo e tendo consciência da importância gesto. Como demora em média três meses o processo de busca até chegar ao doador e coletar a medula, a desistência pode representar a perda de um tempo que o paciente não mais dispõe na vida.
Drauzio – É importante deixar claro que a doação de medula é desprovida de qualquer complicação e que podemos doá-la sem que nos faça nenhuma falta.
Carmen Vergueiro – Doar a medula óssea é um procedimento simples que pode salvar vidas. A doação não traz nenhum risco para o doador, pois em pouco tempo sua medula estará completamente regenerada.